CRISTIANISMO PURO E SIMPLES – C.S. Lewis

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Livro clássico! C.S. Lewis é mestre em fazer uma apologética (defesa da fé cristã) acessível e que encosta qualquer um à parede. Muito forte na lógica e ainda mais nas ilustrações, o que torna toda a sua argumentação clara, simples e ao mesmo tempo forte.

Um livro que todo o cristão devia ler e emprestar a quem não é cristão.

Deixo uma citação que se encontra mais no final do livro e relacionada com a santificação e transformação do caráter do cristão:

“Quando alguém se converte a Cristo e parece estar vivendo muito bem (no sentido de que alguns de seus maus hábitos foram corrigidos), muitas vezes esse alguém considera que agora tudo deve ser um mar de rosas. Quando surgem os problemas (doenças, dificuldades financeiras, novos tipos de tentação), fica desapontado. Acha que essas coisas talvez tenham sido necessários para compeli-lo e fazê-lo arrepender-se, naqueles tempos maus; mas porquê agora? Porque Deus está forçando-o a continuar, a subir a um nível mais alto, colocando-o em situações em que deverá ser muito mais corajoso, ou mais paciente, ou mais amoroso do que jamais pensara. Parece-nos tudo desnecessário, mas é porque ainda não tivemos a mais leve ideia do ser maravilhoso em que Ele quer nos transformar.” (p. 117).

UM TRABALHO DE AMOR – Prioridades Pastorais de um Puritano – J. Stephen Yuille

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Se há quem deva instruir os homens chamados ao ministério pastoral são os puritanos, os quais são chamados de médicos da alma pelas habilidades pastorais que tinham de, por meio da Bíblia, cuidar do rebanho de Deus.

Neste livro temos uma amostra de como os puritanos exerciam esse trabalho tão nobre e ao mesmo tempo tão exigente à alma do pastor. Stephen Yuille, que já foi missionário em Portugal, pega em orações do puritano George Swinnock e a partir de cada uma delas extrai 16 características que um pastor deve ter: 1) Um embaixador do Rei; 2) Um vaso fiel; 3) Um Cortejador Sincero; 4) Um sábio construtor; 5) Um hábil cirurgião; 6) Um aluno diligente; 7) Uma mão carinhosa; 8) Um soldado corajoso; 9) Um pregador sensato; 10) Um Intercessor constante; 11) Um Instrutor Paciente; 12) Um Juiz Perspicaz; 13) Um Pastor Fiel; 14) Um Exemplo Poderoso; 15) Um Humilde Instrumento; 16) Um Supervisor Atento.

Em cada um desses tópicos Stephen Yuille acrescenta outras citações de puritanos e faz observações de sua autoria.

Na segunda parte do livro o autor deixa-nos um sermão do próprio Swinnock, o qual este dirigiu à sua congregação como despedida. Nele encontramos também preciosos conselhos e orientações para os pastores.

Por meio desta obra fica evidente uma vez mais como os puritanos levavam muito a sério o trabalho pastoral, onde o pastor procurava dar a sua vida em prol da glória de Deus, buscando uma vida de santidade, procurando ser um exemplo, onde o ensino bíblico era a base de todo o trabalho, onde havia constante cuidado pela doutrina e pelo estado do rebanho, aplicando a disciplina eclesiástica, levando a exortação e a instrução a cada lar de cada ovelha e intercedendo continuamente por cada um dos membros da igreja.

PAIXÃO PELA VERDADE – a coerência intelectual do evangelicalismo | Alister McGrath

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Qual o propósito do Livro? O próprio autor afirma:

“Este estudo, portanto, tem o objetivo de explorar a coerência do evangelicalismo destacano a consistência interna da abordagem evangélica e demonstrando as contradições e vulnerabilidades internas de seus rivais contemporâneos.” (p. 21).

Antes de abordar os rivais do cristianismo, em primeiro lugar McGrath trabalha a fonte da autoridade do cristianismo e da sua consistência interna: Jesus Cristo e as Escrituras.

Em seguida são demonstradas as contradições e vulnerabilidades dos rivais do cristianismo assim como o perigo que o cristianismo enfrente ao lidar com eles:

a) pós-liberalismo

b) pós-modernismo

c) pluralismo religioso

Capítulo 1 – A singularidade de Jesus Cristo

McGrath vai elaborar todo este capítulo a partir da afirmação inicial que faz, o qual deixa logo claro de como será construído o seu percurso:

“O Cristianismo é singular entre todas as religiões do mundo. A razão de sua singularidade é a figura histórica que se constitui no seu centro – Jesus Cristo.” (p. 23).

A autoridade do cristianismo está em Cristo: Deus revela-se em Cristo, a salvação está totalmente em Cristo, o cristão é chamado a imitar Cristo, o alvo é a adoração de Cristo e a missão é a proclamação de Cristo. A autoridade está fora do homem, e isso choca tanto com a postura da modernidade como com a da pós-modernidade, em que, de formas diferentes, fazem do homem a sua própria medida.

Capítulo 2 – A autoridade da Escritura

O autor afirma que as Escrituras são de importância central para o Evangelicalismo, uma vez que dá a conhecer aquele que é o fundamento do cristianismo, a pessoa de Jesus Cristo:

“A Escritura está literalmente centrada em Cristo e Cristo está nela desenvolvido. Só por meio da Escritura ele pode ser conhecido.” (p. 46).

A Igreja, ao longo da História sempre teve a Escritura como autoridade, tanto no sentido de ser a origem das ideias contidas no cristianismo como a crítica das ideias encontradas fora do cristianismo.

Fruto da modernidade (e de forma semelhante na pós-modernidade) a sociedade quer estar livre para construir as suas próprias realidades e não quer ser controlada por uma norma externa. O liberalismo teológico acabou por procurar se conformar a essa cosmovisão e cortou as amarras com a autoridade das Escrituras, ao que McGrath reage:

“A história teológica já nos forneceu muitos exemplos por demais desconfortáveis do que acontece quando uma teologia corta as amarras que tinha com a influência controladora da tradição cristã, e busca normas de fora dessa tradição.” (p. 50)

A igreja hoje tem de continuar atenta a esse perigo:

“Criticamos os cristãos alemães por obedecerem a Hitler na década de 1930, convenientemente optando por não ver que eles estavam simplesmente submetendo-se às normas culturais prevalecentes. Hoje, estamos fazendo o mesmo, permitindo-nos e às nossas igrejas seguirem normas e valores societários, sem restrição a suas origens e alvos. Permitir que nossas ideias e valores tornem-se controlados por qualquer coisa ou pessoa que não a auto-revelação de Deus na Escritura é adotar uma ideologia, em vez de uma teologia; é tornar-nos controlados por ideias e valores cujas origens se acham fora da tradição cristã – e potencialmente tornar-nos escravizados por eles.” (p. 53)

McGrath ainda neste capítulo coloca a academia e a sua tentativa de ser fonte de autoridade no seu devido lugar ao afirmar:

“Muitas vezes se sugere que a academia é a salvaguarda da liberdade. A evidência simplesmente não endossa isso. (…) A igreja deve olhar para outro lugar e não para a academia, se ela vai manter sua liberdade e evitar o exílio perene à beira de uma cultura secular.” (p. 52-53).

O autor vai depois desenvolver quatro abordagens rivais à autoridade das Escrituras, a Cultura, a Experiência, o Racionalismo e a Tradição, atacando e desconstruindo cada um deles, mostrando no final a autoridade das Escrituras.

Capítulo 3 – Evangelicalismo e Pós-Liberalismo

McGrath no presente capítulo demonstra uma preocupação face à luta do evangelicalismo contra o liberalismo.

O autor considera importante continuar-se a interação com a tendência liberal dentro da teologia cristã, uma vez que a crítica ao liberalismo, no seu aspeto pragmático e teórico, vem agora também de fora do cristianismo, onde outras vozes surgem nessa crítica e afirmação de “(…) que o liberalismo é intelectualmente falho e defeituoso.” (p. 102).

McGrath destaca do meio dessas vozes o pós-liberalismo e desenvolve o capítulo em torno dele, uma vez que o pós-liberalismo tem ganhado uma influência crescente, e onde se torna preocupante é que essa influência tem tido lugar tanto dentro das igrejas como das academias. McGrath, fruto dessa preocupação, desenvolveu então uma avaliação e resposta crítica ao pós-liberalismo, mostrando as áreas de convergência e desacordo entre o evangelicalismo e o pós-liberalismo.

Capítulo 4 – Evangelicalismo e Pós-Modernismo

O pós-modernismo torna-se preocupante se influenciar o evangelicalismo na medida em que torna a verdade subjetiva, onde a autoridade reside fora do objeto, encontra-se antes na pessoa. O método da desconstrução que desvaloriza a identidade e a intenção do autor, coloca inteiramente a avaliação da verdade nas mãos do intérprete, fazendo com que qualquer avaliação seja válida, com todas as implicações que isso pode ter para a vida prática e real.

As Escrituras não podem ser lidas assim, elas têm autoridade nelas mesmas. Tanto a postura do pós-modernismo, quanto do modernismo são antropocêntricas. Neste a Razão, como valor universal, era a autoridade que ditava a interpretação das Escrituras, naquele é a avaliação individual que extrai a sua verdade, que pode ser diferente da de outra pessoa, ficando a Verdade das Escrituras sempre “refém” do homem.

Capítulo 5 – Evangelicalismo e Pluralismo Religioso

O pluralismo religioso não é algo totalmente novo para a igreja cristã, era algo presente no contexto europeu em que Paulo actuou durante o seu ministério. No entanto, existem algumas agravantes, que é o facto de vivermos numa cultura que luta de forma desordenada pelos seus direitos, onde impera o politicamente correto, e por isso defender o cristianismo tem se tornado para muitos como um ato de depreciação de outras crenças e religiões. Pessoas que defendem crenças como verdadeiras são acusadas de triunfalistas e imperialistas.

O cristianismo não deve ceder, deve continuar a afirmar a verdade. McGrath defende o respeito por outras religiões e crenças que não a nossa, mas opõe-se a que sejam vistas como parte de uma mesma religiões ou como manifestações diferentes de uma mesma realidade divina, tal como a velha ideia de que se trata de diferentes caminhos que conduzem ao mesmo fim.

O autor defende o diálogo e o respeito mútuo, mas ao mesmo tempo vai demonstrar como os conceitos e as doutrinas do cristianismo são verdadeiras e exclusivas, não dando espaço para afirmações que passem a ideia de que outros conceitos presentes em outras religiões sejam igualmente verdadeiros ou uma outra face da mesma verdade. É nesse sentido que McGrath vai abordar o entendimento cristão de “Deus”, o conceito da “salvação” cristã e o lugar de Cristo nessa salvação como aspetos totalmente diferentes, que não podem ser encontrados em qualquer outro lugar e por conseguinte, como excludentes de outras perspectivas.

Conclusão

“Este livro visou a buscar a aceitação pública da adequação intelectual e suficiência do evangelicalismo, tanto em termos dos próprios critérios internos como das alternativas no mundo ocidental moderno. Os evangélicos não precisam mais se sentir desmedidamente vulneráveis, na defensiva, ou pedindo desculpas sobre as crenas que os distinguem dos seguidores de outras doutrinas religiosas.” (p. 205).